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Quaresma

por: Frei Ademir Sanquetti
Ao recebermos as cinzas sobre a cabeça, ouviremos mais uma vez um claro convite à conversão que pode expressar-se numa fórmula dupla: “Convertei-vos e acreditai no evangelho”, ou: “Recorda-te que és pó e em pó te hás-de tornar”.E iniciamos um tempo especial, a Quaresma.


Quaresma é, para nós, um tempo de preparação para viver o grande acontecimento da nossa fé: A Páscoa, a Ressurreição do Senhor. Nos preparamos para celebrar o triunfo de Jesus Cristo sobre a morte.
São quarenta dias que antecedem a Semana Santa, quando a Igreja nos fala da necessidade da oração, do jejum e da esmola como meios de melhor combater os vícios, pela mortificação do corpo, e propiciar a elevação da mente a Deus. A consideração da passagem desta vida para a eternidade muitas vezes nos inquieta. Entretanto, tal pensamento é altamente benfazejo para compenetrar-nos da necessidade de evitar o pecado que, sem o arrependimento e o imerecido perdão, poderá fechar-nos, para sempre, as portas do Céu: “Lembra-te de teu fim, e jamais pecarás” (Eclo 7, 40). São Paulo nos incentiva a vivermos na graça de Deus: “Em nome de Cristo, vos rogamos: reconciliai- vos com Deus!” (II Cor, 5, 20). E com toda razão, pois o pecado nos afasta de Deus, tornando necessária a nossa reconciliação com Ele. A Encarnação de Jesus, com sua Paixão e Morte na cruz foi o meio escolhido para restituir à humanidade transviada a plena amizade com Deus. Se Jesus não tivesse assumido sobre Si a dívida contraída por nossos pecados, impossível seria nossa reconciliação com Deus e teríamos para sempre fechadas às portas do Céu.
Tempo de oração, jejum e esmola .
Nesta Quaresma, procuremos, mais ainda do que a mortificação corporal, aceitar o convite que o Evangelho sabiamente nos faz, combatendo o orgulho com todas as nossas forças. Este percurso tem uma pedagogia divina, incitando-nos a praticar com mais intensidade três obras de piedade: jejum, esmola e oração.
Jejuar, ou seja, abster-se de algum alimento, não é a única forma de privação que podemos nos impor. A realidade completa do jejum é o sinal externo de uma realidade interior, do nosso compromisso, com a ajuda de Deus, de nos abstermos do mal e de vivermos do Evangelho. Há muitas formas de praticar o jejum: renunciar ao amor-próprio, aos impulsos de impaciência com o próximo, às atitudes violentas, à mentira, às seduções do consumismo e do hedonismo, bem como a todo tipo de maldade. “Sede bondosos e compassivos uns com os outros” (Ef 4, 32), recomenda-nos São Paulo.
Quanto à esmola, deve esta estar marcada pela prodigalidade face às necessidades do próximo, especialmente dos que sofrem. Grande impacto nos causa a pobreza material em nossos dias, e pouco nos toca a pobreza espiritual, muito mais dolorosa.
Observa Bento XVI que, segundo Santo Agostinho, “o jejum e a esmola são ‘as duas asas da oração’, que lhe permitem tomar mais facilmente o seu impulso e chegar até Deus” (BENTO XVI. Audiência geral, 9/3/2011).
Eis aqui o terceiro convite que nos faz a Santa Igreja no tempo da Quaresma: o de termos uma oração mais fiel, surgida de nosso interior, do coração e não apenas dos lábios. “Nem todo aquele que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai” (Mt 7, 21).
Tudo isso nos fará caminhar rumo a uma conversão que não seja passageira, nem volúvel ou artificial, mas perene e profunda. Que os exercícios quaresmais produzam em nós mudanças de atitude, tão necessárias no mundo de hoje, rumo à ordem e à paz na família e na sociedade. Que nos conduzam, portanto, a um sincero arrependimento e um sério propósito de emenda de vida.
Isto é o que desejo a todos e a cada um, para que, após o período quaresmal, as comemorações da Páscoa da Ressurreição abram para nós um caminho novo rumo à santidade de vida, à verdadeira felicidade. GORI, Nicola. Quando dico al Papa: “Convertiti e credi al Vangelo”. 
Frei Ademir Sanquetti